Cerca de 17 mil estão desacompanhadas ou separadas das famílias
Porto Velho, RO - O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) disse nesta sexta-feira (2) que estima que 17 mil crianças em Gaza estão desacompanhadas ou foram separadas de suas famílias durante o conflito, e que quase todas precisam de apoio à saúde mental.
"Elas apresentam sintomas como níveis extremamente altos de ansiedade persistente, perda de apetite. Não conseguem dormir, têm explosões emocionais ou entram em pânico toda vez que ouvem um bombardeio", disse Jonathan Crickx, chefe de comunicação do Unicef para os Territórios Palestinos Ocupados.
"Antes desta guerra, o Unicef já considerava que 500 mil crianças estavam precisando de saúde mental e apoio psicossocial em Gaza. Hoje, estimamos que quase todas estejam necessitando desse apoio, ou seja, mais de 1 milhão".
Temor
As forças israelenses bombardearam hoje os arredores do último refúgio no extremo sul da Faixa de Gaza, onde desabrigados, encurralados contra a cerca da fronteira, disseram temer novo ataque sem ter para onde fugir.
Mais da metade dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza estão desabrigados e amontoados em Rafah. Dezenas de milhares de pessoas chegaram nos últimos dias, carregando pertences nos braços e crianças em carrinhos, desde que as forças israelenses lançaram um dos maiores ataques da guerra na semana passada para capturar Khan Younis, a principal cidade do sul, ao norte de Rafah.
Se os tanques israelenses continuarem avançando, "teremos duas opções: ficar e morrer ou escalar os muros até o Egito", disse Emad, 55 anos, empresário e pai de seis filhos, contactado por meio de um aplicativo de bate-papo para celular.
"A maior parte da população de Gaza está em Rafah. Se os tanques invadirem o local, haverá um massacre como nunca houve durante esta guerra."
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse que as tropas agora se voltariam para Rafah, que, juntamente com Deir al-Balah, ao norte de Khan Younis, está entre as últimas áreas que ainda não foram invadidas em um ataque de quase quatro meses.
"Estamos cumprindo nossas missões em Khan Younis, e também chegaremos a Rafah e eliminaremos os elementos terroristas que nos ameaçam", afirmou Gallant em comunicado.
Como a única parte de Gaza com acesso à limitada ajuda médica e de alimentos que atravessa a fronteira, Rafah e as partes adjacentes de Khan Younis se tornaram um local repleto de barracas improvisadas que se agarram à lama do inverno.
O vento e o clima frio aumentaram o sofrimento, derrubando ou inundando as tendas.
"O que devemos fazer? Vivemos em várias misérias, guerra, fome e agora a chuva", disse Um Badri, mãe de cinco filhos, deslocada da Cidade de Gaza e que agora vive em uma barraca em Khan Younis, também contactada por telefone.
"Costumávamos esperar pelo inverno para ver a chuva da varanda de nossa casa. Agora, nossa casa não existe mais, e a água da chuva inundou a barraca em que fomos parar."
Trégua
A guerra de Gaza foi desencadeada por combatentes do Hamas que atravessaram a cerca da fronteira com Israel em 7 de outubro, matando 1.200 pessoas e capturando 253 reféns, de acordo com registros israelenses.
Desde então, as autoridades de saúde de Gaza afirmam que mais de 27 mil palestinos foram confirmados como mortos, com milhares de corpos perdidos entre as ruínas, em um ataque israelense que destruiu grande parte do território.
Os mediadores estão aguardando uma resposta do Hamas, grupo militante que governa Gaza, a uma proposta elaborada na semana passada com os chefes de espionagem de Israel e dos Estados Unidos e transmitida pelo Egito e pelo Catar, para o primeiro cessar-fogo prolongado da guerra. Os moradores esperam que isso acabe com os combates antes que os tanques entrem em Rafah.
Fonte: Gabrielle Tétrault-Farber - Repórter da Reuters*
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